Alô, amigos, aqui é Caio Zip, o viajante do tempo. Hoje… Bem pode ser pra vocês hoje, amanhã ou ontem, é sempre relativo em se tratando que eu estou aqui na máquina do tempo e ela nunca me indica a época em que eu estou. Deixando esse eterno problema de lado, estamos aqui com um convidado de dimensões cósmicas na estreia da nossa Rádio dos Tempos. Apesar de nosso convidado estar pra fazer 137 no próximo dia 14 de março do ano 2016, ele é o cara mais comentado nas redes sociais. Isto porque os cientistas, finalmente, aprenderam a pegar as tais ondas gravitacionais. Custou, mas finalmente comprovaram que, nosso convidado, Albert Einstein, estava certo.

Einstein_jovem

Einstein: Como assim: eu estava certo? Por acaso, não estou mais?

 

Calma, Albert, a gente já vai falar sobre isso. Antes eu queria falar um pouco sobre você. Pra começar, que tal falar como você era quando criança?

Nada de mais. Eu era uma criança curiosa e era tão quieta que minha família, em vez de ficar feliz por eu não ficar gritando pela casa, acabou por me levar ao médico, mas não adiantou nada. Continuei quieto, só observando.

 

Quanto tempo levou para você começar a falar?

 Só comecei aos três anos.

 

Poxa. Tudo isso!

Meu caro amigo, eu não via nenhuma razão para ficar falando palavras soltas. Eu achei mais interessante aprender a ensaiar uma frase mentalmente para depois me expressar de uma forma completa e só senti que precisava fazer isso quando minha irmã nasceu, pois foi neste momento que percebi que, por não me darem mais a devida atenção, precisava me comunicar. Afinal, acabei por falar, ou melhor, a formular a minha primeira questão crucial que, a partir dali, seriam muitas na minha vida.

 

E qual foi?

Onde estavam as rodas do meu novo brinquedo?

E o resto da sua infância, rolou normal?

Claro que sim. A minha curiosidade rolou de forma crescente. Quando eu tinha cinco anos, eu fiquei profundamente impressionado com uma bússola que ganhara de presente de meu pai. Eu disse pra mim mesmo: “Como é que uma agulha pode se movimentar, flutuando no espaço, sem o auxílio de nenhum mecanismo? É um verdadeiro milagre.” Foi a partir daquele ponto, ao estudar aquela misteriosa força magnética que atraía o ponteiro da bússola, que comecei a entender que, por trás das coisas e fenômenos, havia algo forçosamente escondido que escapava à percepção sensorial do ser humano. Percebi que a mais profunda emoção que podemos experimentar é inspirada pelo senso de mistério. Essa é a emoção fundamental que inspira a verdadeira arte e a verdadeira ciência.

E na escola, você achava algo interessante?

Não muito. Gostava mais quando ganhava um livro e dali partia para minhas conclusões. Quando tinha sete anos já sabia demonstrar o teorema de Pitágoras, para surpresa do meu tio Jakob, que poucos dias antes tinha me ensinado os fundamentos da geometria.

 

Cara, você deve ter sido um estudante e tanto.

Só nas que envolviam algum tipo de raciocínio. Eu não era bom em geografia, história, francês e, particularmente, no grego, pois sempre tive dificuldades de usar minha memória. Decorar conjugações de verbos era para mim um horror! Meus professores me achavam tão preguiçoso que certo dia o diretor da escola, que coincidentemente era o professor de grego, falou que meu desinteresse pela língua era uma falta de respeito com a figura do professor e que minha presença na classe era péssimo exemplo para os outros alunos. Enfim, meus professores da escola primária pareciam sargentos, e os do ginásio pareciam tenentes.

 

Que droga ter professores desse tipo.

E para me punir por meu desprezo pela autoridade, o destino fez de mim mesmo uma autoridade. (risos)

É quase um milagre que os métodos da minha época de ensino não tenham eliminado a sagrada curiosidade que conduz à pesquisa; o que esta planta delicada necessita mais do que qualquer outra coisa, além do estímulo, é a liberdade.

 

Você estudou até quando nessa escola?

Em 1894, o negócio do meu pai em Munich fracassou, e a minha família teve de se deslocar para a Itália, deixando-me para trás a fim de completar o ensino secundário. Eu aguentei até o Gymnasium, depois abandonei a escola aos 15 anos e juntei-me à família em Milão.

 

Mas você não abandonou os estudos, né?

Nunca. Após meio ano de viagens, fiz exame de admissão ao Instituto Politécnico Federal em Zurique (E.T.H.), na Suíça. Tentei entrar, apesar de não ter o diploma do secundário e ser mais jovem do que o previsto para ingressar em curso superior. Fui reprovado nas provas de química, biologia e línguas modernas, mas meus excelentes resultados em matemática e física chamaram a atenção do diretor da escola, que me aconselhou a concluir o curso secundário na escola cantonal em Aarau, próxima a Zurique.

 

E como foi nessa outra escola?

Foram os tempos mais felizes da minha vida. Era um ambiente livre e motivador. Lá, eu só me preocupava com um problema que nem eu e nem meu professor sabíamos resolver.

Qual?

Quando eu poderia pedir ao diretor pra sair com a filha dele.

Fala sério.

A verdade é que eu queria saber qual o aspecto que teria uma onda luminosa para alguém que a observasse viajando com a mesma velocidade que ela! Pareceria congelada? Para esta questão, só obtive resposta quando comecei a formular a minha famosa teoria.

E aí, quando é que você começou a desenvolver a Teoria da Relatividade?

Pra começar, eu nunca a chamei de “Teoria da Relatividade” e muito menos disse que “Tudo é relativo”. Eu estava em dúvida qual seria o nome da teoria. Não sabia se devia chamá-la de Equivalência pela igualdade de energia com a massa… Se devia chamar de Invariância pela velocidade da luz não variar… Eu bem que tentei dar o nome “Teoria da Invariância”, mas Relatividade foi o nome que pegou.

Como toda celebridade, você sofreu as distorções de suas palavras pela mídia.

É como sempre digo: Se A é sucesso na vida, então A é igual a X mais Y mais Z. X é trabalho, Y é diversão, e Z é manter sua boca fechada!

Essa foi boa (risos), mas, voltando ao assunto, quando você começou a desenvolver a Teoria?

Demorou. Antes, fui finalmente admitido no E.T.H, mas para minha surpresa e decepção, a Escola Politécnica não atendia às minhas expectativas. Ao contrário da escola de Aarau, onde as aulas se desenvolviam em estimulantes discussões, na ETH os professores se contentavam em ler, em voz alta, livros inteiros! Para fugir do tédio de aulas tão monótonas, eu decidi “matar aulas”, aproveitando o tempo livre para ler obras de física teórica. Eu também tive de procurar emprego durante muito tempo. Enquanto isso, dedicava algumas horas do dia lecionando numa escola secundária. O que me ajudou muito foi quando conheci Maurice Solovine que tinha lido meu anúncio num jornal sobre eu dar aulas particulares de matemática e física por três francos a hora. No terceiro dia de aula, eu desisti de cobrar e sugeri que a gente só tivesse reuniões diárias para discutir o que bem entendêssemos. Algumas semanas depois, Conrad Habicht começou a participar das discussões. Para ridicularizar as verdadeiras academias científicas, passamos a nos autodenominar integrantes da Akademie Olympia. Foi graças a essas reuniões que comecei com a Teoria.

 

Devem ter sido bem chatas estas reuniões cheias de cálculos.

Que nada! Eram muito animadas. Eu ainda me lembro de que tocava violino, enquanto a gente tentava fazer a comida com o que se tinha, pois a gente não tinha nenhum tostão. Gostávamos de livros de ciência, mas o que fazia a gente voar na imaginação era ler poesias e obras de Charles Dickens. Por falar nisso, você tem ideia de como trabalha um poeta?

Como assim?

Quero dizer, como vem a concepção de um poema?

Não sei, ele apenas sente e daí surge a poesia, não é?

Mas é isso mesmo que se dá com um cientista. O mecanismo do descobrimento não é lógico… Você não vê? É uma iluminação súbita, quase êxtase. Há uma conexão com a imaginação. E imaginação é mais importante que o conhecimento.  Eu penso 99 vezes e nada descubro. Deixo de pensar, mergulho em um grande silêncio e a verdade me é revelada. A mente avança até o ponto onde pode analisar, mas depois passa para uma dimensão superior, sem saber como lá chegou. Todas as grandes revelações realizaram este salto.

Quais revelações?

O espaço e tempo sem um corpo, mas um corpo não pode existir sem espaço-tempo. Tudo que existe, tudo que observamos, vira nosso conhecimento, não é? Tempo e espaço são conceitos que temos intuitivamente. Logo, tudo que existe, todo nosso conhecimento, está baseado na intuição cósmica. O que me leva a querer saber: Qual de nós é um viajante do tempo?

Eu sei que é difícil acreditar, mas eu sou um viajante do tempo.

Tem certeza? O tempo. O que sabemos sobre o tempo?

Pra mim, às vezes acho que passa muito devagar e outras horas vai bem rápido.

Eu também acho. Quando eu me sento ao lado de uma bela garota durante uma hora parece que durou um minuto, mas quando eu me sento numa grelha quente por um minuto parece que durou mais que qualquer hora. Isso é relatividade.

E o tempo passa…

Na verdade, não é o tempo que passa. Somos nós que passamos pelo tempo, o que leva a conclusão de que todos nós somos viajantes do tempo. Sem o tempo, não poderíamos nos mexer e ir a lugar algum. O motivo de termos três dimensões de espaço e uma dimensão de tempo, ou melhor, espaço-tempo, pode estar no modo como funciona a gravidade.

Como assim?

O tempo e o espaço são relativos.

Como o espaço pode ser relativo?

Suponha que enquanto você dormisse… O universo todo, você, a cama… Absolutamente tudo tivesse aumentado mil vezes. Quando você finalmente despertasse, sentiria alguma diferença?

Claro que não.

Por que não?

Eu não teria como saber.

Você não teria como comparar. Não teria sentido dizer que o Universo está maior porque não teria como comparar com algo menor. Então o conceito de tamanho é um conceito relativo.

Tá, entendi, mas quanto ao tempo?

O tempo é dinâmico. Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio. As águas de ontem não são as mesmas de hoje. Novas águas estão sempre fluindo. Assim como as águas do rio, o tempo flui e de forma diferente. Para comprovar, foi feito um experimento onde colocaram um relógio perto do Equador e outro em um dos Polos: você verá que o relógio mais no centro vai andar mais devagar do que um colocado em um dos extremos do planeta.

Por que isso acontece?

Da mesma forma que um disco envelhece mais no centro do que na sua borda. A gravidade… A gravidade afeta o tempo.

Pode explicar melhor?

Claro. Imagine, por um momento, um tecido branco esticado.

Tá, já imaginei.

Agora, me diga: o que vai acontecer se eu soltar uma melancia em cima do tecido?

O tecido afunda.

Ou melhor dizendo, meu amigo, o tecido se curvou. E o que acontece se eu jogar um limão?

Ele também curva o tecido, mas vai ser bem pouco.

E se eu empurrar o limão para próximo de onde se encontra a melancia?

As frutas vão ficar juntas.

Certo. Agora imagine se esse tecido fosse transparente. Qual a impressão que teríamos sobre as duas frutas?

Ué, vai parecer que a melancia atraiu o limão e por isso estão desse jeito.

É isso mesmo! A impressão que temos é que a fruta mais pesada está atraindo o pequeno limão. Pois bem, eu acredito que é isso que acontece no espaço. O que acabamos de imaginar aqui é como funciona a gravidade. O sol curva o espaço, da mesma forma que a melancia. O pobre limão seria como se fosse o nosso planeta Terra. Se a Terra não tivesse o movimento de translação, que é o que a mantém em órbita, ela iria direto para o Sol. O Sol, devido a sua massa, curva o espaço, e a Terra se move nessa curvatura. É essa curvatura que é a culpada. É ela que faz com que os corpos se atraiam mutuamente. A matéria sempre faz o espaço-tempo se curvar, em maior ou menor proporção.

Demais! Se eu, em vez de fazer o limão rolar para perto da melancia eu o passasse perto da borda do tecido, ele conseguiria fugir da depressão e seguiria em linha reta.

Isso explicaria o porquê de outros astros não serem atraídos pelo sol!

Isso é super! Como é que ninguém nunca notou isso antes!

Meu amigo, quando um besouro cego caminha sobre a superfície de um galho ele não percebe que o caminho é, na verdade, curvo. Tive a sorte de notar o que o besouro não percebeu.

É verdade, somos como besouros. A gente também não nota que a Terra gira, não é mesmo?

Bem, nem sempre Quando bebo vinho, às vezes é muito fácil ver tudo girando.

Cara, que imaginação você tem!

Eu não tenho nenhum talento especial e possuo pouca imaginação. Só sou apaixonadamente curioso.

Eu só queria saber uma coisa: o que você quis dizer com “que os corpos se atraiam mutuamente”?

A lei da Gravitação afirma que quaisquer corpos relativamente próximos se atraem. O Sol atrai a Terra. A Terra atrai uma pessoa. E a pessoa atrai a Terra. Mas veja: a gravitação não é responsável pelas pessoas se sentirem atraídas.

Tá dizendo que eu atraio a Terra?

Claro! Por incrível que possa parecer, existe uma atração gravitacional entre uma pessoa e o planeta, apesar de não termos como perceber essa atração. Sabia que essa atração também existe entre você e o bloco de notas que está segurando?

E como é que fica a luz nessa história de espaço curvo?

A luz se propaga através do espaço e, sendo este curvo, ela então também deve seguir a curvatura.

 

Pô, Albert, e onde entram as ondas gravitacionais? Por que o pessoal tá fazendo tanto alarde por finalmente descobrir que elas existem, ou seja, que você estava certo?

Que incrível! Só agora que descobriram que eu estou certo!

Levaram um século.

Tudo isso!

Voltando: O que são ondas gravitacionais?

Não é difícil imaginar que nosso espaço-tempo sofra com ondas e mais ondas gravitacionais provocadas por esses diversos eventos espalhados pelo Universo. Qualquer massa em movimento produz ondulações nesse tecido espaço-tempo que emitem radiação sob a forma de ondas gravitacionais, inclusive os nossos movimentos. Mas, as ondas de tão fracas, são praticamente nulas. É necessário algo com uma massa extremamente grande para gerar uma onda minimamente detectável. Como pode concluir, é difícil mesmo comprovar a existência das ondas. Eu mesmo tinha dúvidas se existiam as ondas, se os cálculos da minha teoria estavam certos, se existiam buracos negros…

E qual é a importância desta descoberta?

A luz do Sol leva 8 minutos para chegar à Terra. Estamos sempre vendo o Sol no passado. A luz da estrela Sirius leva 9 anos-luz para chegar até a Terra. Através do telescópio, nós a vemos como ela brilhava 9 anos atrás. O nosso reflexo num espelho também leva um tempo microscópico, porém leva algum tempo para chegar até a nossa retina. O que vemos através do espelho é uma versão ligeiramente mais jovem de nossa imagem. Logo, tudo o que vemos é o nosso passado.

Isso quer dizer que, se a gente colocasse um espelho numa estrela a mil anos-luz, então bastaria pegar um telescópio e aí a gente iria ver o que aconteceu na Terra há mil anos? Então, os telescópios são máquinas do tempo? É isso mesmo?

Sim, eles são. Se a gente colocasse na Lua alguns espelhos poderíamos fazer algumas experiências aqui na Terra.

Que pena! Se a Lua estivesse bem longe daí a gente poderia ver o nosso passado…

É por isso que a descoberta das ondas gravitacionais são tão importantes. Agora que as ondas gravitacionais foram detectadas, temos a possibilidade de observar o espaço com alcance bem maior e não apenas em ondas eletromagnéticas, como a luz, que não será mais nossa única ferramenta para ”ver” o Universo. Isto vai permitir que os astrônomos comecem a desbravar uma nova forma de estudar fenômenos que a nossa imaginação não consegue alcançar.

Bom, pelo que estou vendo aqui na Wikipédia, ondas eletromagnéticas são resultados das combinações de campos elétricos com campos magnéticos. No início não se sabia como usá-las, além de observar o espaço, mas hoje somos bem dependentes delas pra poder usar TV, celulares, aquecer a comida no micro-ondas, acessar à internet e mais uma infinidade de coisas.

Acho que de tudo isso que você falou, o que eu mais gostaria de ter seria esse micro-ondas.

 

Estou lendo aqui num artigo que o que os pesquisadores do projeto Ligo (Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory) descobriram foram distorções em escala atômica no espaço e no tempo causadas por dois buracos negros que giraram em torno um do outro até que colidiram, transformando-se em um único buraco negro girando velozmente. Esse evento aconteceu há 1,3 bilhão de anos. Durou uma fração de segundo, mas a energia emergida foi enorme, equivalente a três massas solares. Tal cataclismo lançou ondas em todas as direções que só chegaram recentemente à Terra.

Está vendo como é incrível?  Esses buracos negros são escuros porque têm uma força de atração de gravidade tão grande que capturam até a luz. Agora, com a chance de usar as ondas gravitacionais, podemos até mesmo ter informações dos vestígios do Universo que foram emitidas há bilhões de anos. O evento que mais criou ondas gravitacionais foi justamente o início dos tempos, o Big Bang. Vai ser o mesmo que ocorreu quando Galileu, há 400 anos, apontou pela primeira vez o telescópio e foi descobrindo o céu como nunca ninguém poderia imaginar. A sorte é que esses cientistas não vão sofrer como Galileu.

Sofrer como?

Galileu foi julgado pela Inquisição por defender a ideia de que o Sol não girava em volta da Terra. Pobre Galileu. Ele era católico e um de seus objetivos era tornar a Igreja mais aberta às novas ideias. Ele foi condenado por heresia e permaneceu seus últimos anos sob prisão domiciliar. Ficou cego e, por causa da saúde precária, acabou morrendo.

Pelo que estou pesquisando aqui pelo meu tablet, no século 20 muitos papas reconheceram a obra de Galileu, e o Papa João Paulo II reconheceu que houve excessos no processo contra Galileu.

Bom saber, mas mesmo assim, espero que os cientistas possam também me responder uma grande questão.

 

Lá vem você com mais uma de suas questões. Qual é desta vez?

Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. E não estou seguro quanto à primeira.

Falando em infinito. Se o espaço-tempo é curvo, então se eu pegar as duas partes opostas e dobrar desse “tecido”, estarei juntando dois pontos, eu então estaria fazendo uma dobra espacial, não é verdade?

Suponha dois pontos nas extremidades de uma folha de papel de 20 cm de comprimento. Para um besouro, o caminho mais curto para percorrer de uma ponta a outra seria uma reta. Mas se dobramos o papel, e esses pontos de chegada e partida são colocados próximos um do outro, para o besouro, esse, agora, seria o caminho mais curto.

E como você pensa que a gente poderia curvar o espaço-tempo? Seria jogando um gigantesco melão no tecido espaço-tempo?

Engraçado, eu já pensei nessa ideia, mas conclui que teria que ser de tamanho descomunal. E para transportar esse melão, já imaginou? Alguém tem outra sugestão?

Desisto.

Não, não desista. Aprenda com o ontem, viva para o hoje, tenha esperança para o amanhã. O importante é não parar de questionar. A curiosidade tem um grande propósito de existir.

Qual é a sugestão para resolver esse pequeno problema? Como podemos dobrar o espaço sem ajuda de efeitos especiais como de filmes como Star Wars?

O quê? A gente nem começou a ver o Universo e já estão fazendo guerras nas estrelas?

Bom… É só no filme. Aliás, são 12 filmes da série já na época que me encontro neste momento. Sim, a droga da máquina do tempo nos fez viajar de novo sem nos avisar. Mas seguindo seu conselho de não parar de questionar, tem ou não tem ideia de como poderíamos fazer uma dobra espacial?

Lembre-se que “a massa” (a fonte do campo gravitacional) pode afetar o espaço, fazê-lo “curvar”, mas…

Mas…

A energia também pode curvar o espaço. Se pela lei da física nós não podemos ultrapassar a velocidade da luz, então…

Então o quê?

À medida que um objeto vai atingindo velocidade próxima à da luz, cresce sua dificuldade em aumentar sua velocidade. A resistência do objeto à aceleração aumenta. Sendo assim, a energia que o objeto está recebendo para aumentar a velocidade está, na verdade, aumentando sua massa.

Se isso for verdade, quer dizer que podemos transformar energia em massa?

Mais do que isso. Podemos também converter uma microscópica massa em uma grande energia. A luz não tem massa, mas tem energia, em suma: a energia é a massa na forma livre e a massa é a energia que espera ser liberada.

 

E como então você descreve essa história de energia virar massa e massa virar energia?

 

(Einstein fez uma anotação e entregou pra mim. É a sua famosa fórmula).

 

A chalkboard displays Albert Einstein's equation for special relativity.

Ou seja: Energia é igual a massa multiplicada pela velocidade da luz elevada ao quadrado. Que pode ser dito desta maneira: uma pequena quantidade de matéria equivale a uma enorme quantidade de energia, uma vez que a constante que relaciona massa e energia é a velocidade da luz que vale aproximadamente 300.000 km/s. E tal como um poeta, não sei como ela surgiu, eu apenas a senti.

 

Como! Como pode se resumir uma ideia totalmente revolucionária apenas usando essas três letrinhas?

Todas as teorias deveriam se prestar a uma descrição tão simples que até uma criança pudesse entender.

 

Mas isso não é tão simples assim.

 Faça as coisas o mais simples que puder, porém não se restrinja às mais simples.

 

Puxa. Já imaginou se o que acontece se liberar uma grande quantidade de energia?

Sim, meu amigo, já não é mais imaginação. Com esta equação já é possível medir a massa dos núcleos atômicos e estimar a imensa energia que seria liberada.

 

Minha nossa! Então foi sua equação que levou à criação da bomba atômica!

Jamais pensei nisso! Quando deduzi esta equação, eu estava estudando a relação entre massa e energia e não tinha a ver com armas de destruição em massa.

Então como criaram a bomba?

Foram muitas descobertas como, por exemplo, de Ernest Rutherford, físico inglês, fez pesquisas sobre a estrutura do átomo. O químico alemão, Otto Hahn, e a cientista Lise Meitner acabaram por descobrir a fissão nuclear. Ou seja, conseguiram partir o núcleo de um átomo instável em dois átomos menores pelo bombardeamento de partículas como nêutrons. O outro cientista de origem húngara, meu amigo Leó Szilárd, que percebeu que era possível criar uma reação em cadeia com capacidade para gerar grandes quantidades de energia, provocando dessa forma uma explosão de alto poder destrutivo.
Já falamos de massa curva o espaço-tempo, mas como fica a energia nisso tudo?

 A energia pode gerar um campo gravitacional. Agora imagine: se a energia pode gerar um campo gravitacional, e a gravidade pode afetar o tempo, então a energia pode afetar o tempo…

 

E se isso for possível, então, realmente, explica que se pode viajar no tempo. É, impressionante, não é?

Às vezes acho que Deus está me pregando alguma peça. Mas pelo menos eu sei de uma coisa.

O quê?

 Que Deus não joga dados.

É uma pena que ainda estejamos apenas começando a ver o universo com as ondas gravitacionais. O Universo vai continuar sendo um mistério por um bom tempo.

Sabe qual é a diferença entre um detetive e um cientista? Ao detetive é dado o crime e formulado o problema: quem matou? O cientista precisa, ao menos em parte, cometer seu próprio crime, bem como proceder à investigação. E, para isso, devem armar teorias para desvendar os mistérios do universo.

Desvendar mistérios é o meu passatempo.

Se você tem essa atividade para ocupar o tempo livre você já está no caminho certo. Afinal espaço-tempo é uma forma de pura intuição.

 

Pensei que pudéssemos investigar somente através da observação.

Não. A observação se baseia nos nossos sentidos que nos dão apenas a mera aparência da realidade. Você tem que se libertar da ilusória algema dos sentidos. A intuição é nossa estação de partida. A imaginação é a nossa estrada que precisa ser trilhada com o raciocínio. Só assim você, eu, todos nós, conseguiremos chegar ao nosso destino, o livre conhecimento.

 

Então eu devo deixar as pistas de lado e ficar só com a intuição?

Se quiser decifrar enigmas vai ter que aprender a ser mais ousado. Vamos, Caio, comece a aprender a improvisar. Faça coisas que ninguém espera que você faça. Assim!

(Pessoal, O Albert acabou de botar a língua pra fora. )

Gostei de dar esta entrevista, mas está na hora de voltar para minha época. Preciso continuar com minha forma poética, a matemática. Esse é o meu passatempo, o meu prazer, minha forma de desvendar mistérios…

Não acho que dá pra sentir prazer com matemática.

Dá sim. Para mim, a matemática é um instrumento poderosíssimo, é o sexto sentido dos homens e o sétimo das mulheres… Bem já vou indo, mas quero dizer que hoje foi um dos dias mais felizes que tive. Essa nossa discussão me fez lembrar muito das conversas que eu tinha com meus bons amigos. Que saudades tenho de Maurice…

Maurice?

Eu, Maurice Solovine e Conrad Habicht, e os membros honorários eram Michele Besso, Marcel Grossmann e Paul Habicht. A gente se reunia ora na casa de um, ora na casa de outro… Não tínhamos nada para comer a não ser salsicha e uma fruta… Mas nos divertíamos tanto nessas nossas reuniões. Eu até tocava meu violino. Bons tempos da “Academia Olímpia”… Eu já tinha comentado essa história?

Sim.

Ai, minha memória. Bom dia, para todos vocês e para você, meu amigo Carlos.

É Caio Zip.

Perdoe. A minha memória… Mas antes de ir… Será que eu poderia dar uma olhada nesse seu equipamento que você chama de tablet?

Claro. Se quiser pode dar uma olhada neste vídeo que explica como foi que os cientistas conseguiram detectar as ondas gravitacionais.

 

Encerramos esta entrevista e espero que tenham gostado. Fique com a gente e aproveitem também para assistir ao vídeo que Einstein está vendo:

 

 

 

 

Veja também: nosso próximo bloco:   Curiosidades sobre nosso convidado do dia

O que Einstein tem em comum com Picasso?

Leia o livro da série Caio, Zip, o Viajante do Tempo: “Einstein, Picasso, Agatha e Chaplin”, da editora Viajante do Tempo, que já foi publicado na Coreia do Sul e, recentemente, na China.

http://viajantedotempo.com/dt_portfolios/einstein-picasso/

 

 

Einstein, o INCOMPREENDIDO

EinsteinIndian1931

Demorou até 1921 para ganhar o Nobel?

Na verdade, Einstein foi rejeitado oito vezes pela Comissão do prêmio de 1910 a 1921, pois os jurados se mantinham divididos quanto à questão da Relatividade. Chegaram até indicar um membro para analisar a Teoria, mas foi em vão, ele não conseguiu compreendê-la. O comitê Nobel para Física da Academia Real de Ciências da Suécia, então, não ousou conceder o prêmio com medo que algum dia alguém comprovasse que a Teoria estava incorreta.

Quando enfim deram o prêmio Nobel, no valor de 32 mil dólares da época, foi pelo trabalho sobre o efeito fotoelétrico.

Com seu humor irônico de sempre, Einstein deixou a todos surpresos na hora de discursar pela premiação ao ficar destacando somente a teoria da Relatividade e nenhuma linha sobre o efeito fotoelétrico.

 

Einstein repassou a Mileva Maric ( ex-esposa) o dinheiro do Nobel, em cumprimento a um acordo de divórcio.

 

O MÚSICO

albert-einstein-violin

Aos 6 anos de idade, incentivado pela mãe, o que depois foi consolidado com lições de Heller Schmidt dos 6 aos 13 anos, o violino viria a tornar-se um instrumento fundamental ao longo de toda a sua vida quando pretendia refletir sobre suas teorias.

Ele também gostava de compor ao piano hinos religiosos. Ele aprendeu a tocar sozinho, ouvindo a talentosa pianista que era a sua mãe e, em casa, recebia aulas de religião judaica. Aos 12 anos, porém, quando estava se preparando para o seu bar mitzvah, ele perdeu o que chamou mais tarde de seu “paraíso religioso da juventude”. O que o chocou de modo particular e o levou a uma rejeição de qualquer concepção antropomórfica de Deus por toda a sua vida, foi uma citação de Xenófanes: “Se bois pudessem pintar, eles representariam seus deuses em forma de boi”. Einstein chamou sua convicção religiosa de um “sentimento religioso cósmico”.

 

O NAVEGADOR

Original caption: Exclusive: Albert Einstein on holiday. Letters & souvenirs will be sold by Sotheby's on 26 June. August 1, 1945 SARANAC LAKE, ETAT DE NEW YORK, United States

Quando não trabalhava, gostava do contato com a natureza, era um navegador entusiasmado. Adorava a solidão. Isolava-se num veleiro ou então caminhava sozinho pelas montanhas.

 

Einstein adorava um local chamado Caputh  (pequena aldeia perto de Berlim),  onde tinha uma casa de veraneio às margens de um lago. A casa foi um presente dos cidadãos ao cientista em reconhecimento por seu grande prestígio internacional. Lá, ele passou seus verões e nesse lugar, que considerava “o paraíso”, fazia passeios com um veleiro que ganhou de presente de seus amigos, pelo seu 50º aniversário. O cientista chamava o barco de “my thick sailing boat”.

Mas como nada é perfeito, o cientista teve que abandonar o local, fugindo do nazismo, indo se exilar nos EUA.

Tropas de choque alemãs revistaram a casa de campo de Einstein, em busca de armas e munição, pois tinham informações de que ele dera permissão para militantes comunistas estocarem equipamento militar em sua propriedade. Nada foi encontrado, além de uma faca de pão! Tais acontecimentos haviam sido previstos por Einstein. Ao fechar a casa em Caputh, ele teria dito a Elsa: “Dreh dich um. Du siehst’s nie wieder” (Olha em volta. Não voltarás a vê-la).

 

No lago de Princeton, Estados Unidos, com seus cabelos brancos rebeldes e sua livre imaginação, continuou a velejar, a deixar sua mente vagar por outros mundos.

 

USAR SAPATO SEM MEIA?

Quando a segunda esposa, Elza, lhe pediu para adotar hábitos mais saudáveis, respondeu que preferia “pecar tanto quanto puder: fumar como uma chaminé, trabalhar feito um condenado, comer sem moderação, caminhar só quando tiver boas companhias, ou seja, quase nunca, dormir irregularmente, etc.”

No cotidiano, era avesso a formalidades, começando pelas regras de vestuário. Quando começou a carreira como professor universitário, na Suíça, em 1909, ele era apontado como alguém que se vestia aquém da elegância do cargo. Após a morte de sua segunda mulher, em 1936, seus padrões se tornaram ainda mais anticonvencionais. Vivia em Princeton, nos Estados Unidos. Os suéteres amassados e os sapatos que calçava sem meias fizeram dele uma figura folclórica no campus.

 

Apesar de ter uma aparência desleixada, avesso às regras, estava longe do mito do cientista desligado. ”Era muito interessado em questões históricas e políticas. No tempo da Guerra, sempre costumava dar sua opinião. Durante a Primeira Guerra, ele fazia propaganda antibelicista, defendia o diálogo entre as nações, ao mesmo tempo em que se dedicava aos seus estudos sobre gravitação. O excesso de trabalho na década de 20 chegou a provocar um colapso físico, sendo tratado pela prima Elsa Lowental, com quem se casou depois.

 

O PACIFISTA SEM PAZ

 

Frente à ameaça nazifascista, concluiu que uma guerra pode ser justa se “o inimigo busca o extermínio da vida em si mesma”. Foi criticado por outros militantes do movimento pacifista, mas sustentou sua posição. Assinou uma carta escrita em grande parte pelo amigo Leo Szilard, e enviada ao presidente americano Franklin Roosevelt, que defendia a realização de estudos sobre o uso da energia nuclear. Não se dizia culpado, mas no pós-guerra retomou imediatamente a atividade pacifista, afirmando, ainda em 1945, que “a bomba trouxe a vitória, mas não a paz”.

Seu trabalho no Instituto de Estudos Avançados centrou-se na unificação das leis da física, que ele chamava de Teoria do Campo Unificado. Não conseguiu encontrar uma teoria que permitiria englobar todos os fenômenos gravitacionais e eletromagnéticos, como uma única estrutura lógica. Tentou. Isolou-se em profunda meditação, mas não conseguiu.

 

Morreu sem a paz

Einstein morreu em 1955 aos 76 anos de idade sem a paz de conceber uma ideia de Unificação do Universo.

 

 

 

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